Relato de Caso
O ato de arrancar penas é relativamente comum, dependendo da gravidade do problema algumas aves chegam a se mutilar. Esse distúrbio de comportamento está entre as principais doenças psicossomáticas que estes animais podem desenvolver. Porém antes de determinar que o problema seja de ordem comportamental, deve-se descartar outras possíveis causas como doenças virais, alergias, infecções de pele, fungos, vermes, protozoários, entre outras.
O problema ocorre com maior frequência em animais de cativeiro e que vivem isolados. Devido à mudança de ambiente, estes animais sofrem com o estresse e começam a desenvolver a obcessão por arrancar as próprias penas. Esse comportamento pode causar lesões irreversíveis nos folículos das penas, criando áreas de alopecias definitivas.
Algumas vezes o arranque de penas é confundido com a muda natural, um processo fisiológico, que consiste na perda das penas velhas e desgastadas e crescimento de novas penas. Não é difícil diferencial o arranque de penas da muda natural, a ave só vai ter falhas nos locais onde ela alcança como, dorso, asas, abdômen, tórax. Em locais onde não alcança com o bico (cabeça e pescoço) não ocorre a perda de penas, a não ser que outra ave esteja arrancando.
É importante ressaltar que inicialmente há uma causa que desencadeia o comportamento anormal, mas o hábito pode tornar-se vício, e mesmo que o fator desencadeador cesse, o vício pode permanecer indefinidamente.
Relato de caso
Ave, espécie Nymphicus hollandicus Calopsita, raça Lutino, macho, foi atendido em fevereiro de 2018 na clinica Doutor Vet em Campo Grande/MS, pois apresentava emagrecimento, arranque de penas, automutilação, vocalização excessiva e agressividade com as outras do recinto e com a tutora.
Na anamnese verificou-se que a ave tinha o histórico de ter sido introduzida no recinto, que já continha outras calopsitas machos e uma fêmea. Em pouco tempo começou uma disputa dos machos pela fêmea, onde os machos mais antigos do recinto começaram a bater no macho recém introduzido que, por apresentar comportamento mais dócil, não revidada as agressões e por conta disso, teve início as alterações comportamentais ocasionadas pelo estresse da situação.
O animal passou por exame clinico minucioso, onde se observou áreas com falhas de penas (fig. 01, 02 e 03), foi realizada microscopia das penas para descartar ácaros, piolhos, fungos ou bactérias, realizados também exame coprológico para descartar clamídia, coccidiose, sem alterações nos exames. Outras possíveis causas como, má nutrição, excesso de vitaminas, aspergilose, infecções de pele, intoxicações, irritação por causa de detergentes de limpeza e alergias, também foram descartadas.
Fig.01 (27/02/18) Fig.02 (27/02/18) Fig.03 (27/02/18)
Diagnóstico: automutilação causada por estresse.
Após o diagnóstico, em 28 de fevereiro de 2018, para o tratamento das alterações comportamentais, foi prescrito o complexo homeopático indicado para o tratamento de estresse, na água de bebida do animal, uma borrifada, duas vezes ao dia. Devido as lesões na pele ocasionadas pela automutilação, foi prescrita também a pomada cicatrizante a base de complexo homeopático, recomendada aplicação apenas duas vezes por semana, pois as calopsitas arrancam as penas quando se sentem muito sujas, assim foi preconizado apenas duas vezes por semana para que a ave não tivesse essa sensação com a pomada no corpo.
Em apenas uma semana de tratamento a ave estava melhor, diminuiu a vocalização e agressividade, o arranque depenas também diminuiu (fig. 04 e 05) e já deixava manusear a gaiola.
Fig. 04 (13/03/18) Fig. 05 (13/03/18)
Após 23 dias de tratamento a ave recebeu alta, as penas estavam nascendo novamente (fig. 06 e 07), ela tinha adquirido 6 gramas, e era possível manuseá-la sem que ficasse estressada com isso.
Ela foi inserida novamente no viveiro junto com outras aves e no momento esta chocando dois ovos.
Fig. 06 (20/03/18) Fig. 07 (20/03/18)