Criado em 2007 pelo fundador e sócio-proprietário do Grupo Real, Mário Renck Real, o Programa Ciclos surgiu da necessidade de organizar a destinação de resíduos. Na época, pouco se falava sobre ESG (Ambiental, Social e Governança). Por isso, o programa começou a implementar soluções internas. Desde então, ele ganhou força, pois envolveu famílias de funcionários, estabeleceu parcerias com escolas e transformou a cultura da comunidade. Consequentemente, conquistou destaque no cenário nacional.

Além disso, o Programa Ciclos tornou-se referência em sustentabilidade, sendo reconhecido tanto internamente quanto fora da empresa.

Funcionamento do Programa e Colaboradores

Um exemplo marcante é o auxiliar de linha de produção Marcos Roberto Barbosa de Souza, 51 anos. Ele chega à empresa por volta das 6h pilotando sua motocicleta Biz 125, sempre com sacos amarrados na garupa. Dentro deles há garrafas, papelão, plásticos e até vidros. No entanto, para Marcos, esses materiais representam propósito, renda extra e compromisso ambiental. Além disso, sua rotina inspira outros colaboradores a se engajarem no programa.

Em entrevista ao Campo Grande News, Marcos disse que mantém esse hábito há 10 anos, desde que entrou na Real H. Ele chama sua rotina de “trabalho de formiguinha”: coleta, organiza, higieniza e entrega tudo pronto ao Programa Ciclos. Além disso, garantiu ao Grupo Real o selo de primeira agroindústria do Estado certificada pelo Programa ESG-FIEMS.

A certificação valida práticas sustentáveis alinhadas a padrões internacionais (ODS da ONU). Ela aumenta a competitividade, atrai investimentos, fideliza clientes, reduz custos e mitiga riscos. Por esse motivo, o selo foi concedido após o Grupo Real cumprir 69 indicadores de boas práticas ambientais, sociais e de governança. Esses indicadores foram estabelecidos pela iniciativa Who Cares Wins, do Pacto Global da ONU, em parceria com o Banco Mundial e instituições financeiras.

Em seguida, o Programa Ciclos integrou o grupo dos seis casos brasileiros selecionados para apresentação na COP 30, conferência global sobre mudanças climáticas realizada em novembro, em Belém (PA).

Premiações e Incentivos

Conforme as regras internas, mensalmente os 12 colaboradores que mais arrecadam recicláveis recebem premiação em dinheiro. Além disso, quem coleta mais de 4 kg mensais recebe itens de cesta básica, conforme pontuação.

Marcos se orgulha de nunca ter ficado em 12º lugar. “Se eu não sou o número um, estou entre os primeiros”, afirma. Somente em novembro, transportando tudo em sua motocicleta, ele coletou uma tonelada de recicláveis, garantindo novamente o primeiro lugar. “É todo dia um ou dois sacos, uma ou duas viagens. Igual formiguinha. Quando vê, no fim do mês, virou um montão”, relata o auxiliar. Portanto, hoje afirma ter encontrado o lugar onde pretende se aposentar.

O trabalho de Marcos ultrapassa os muros da empresa. Ele recolhe materiais de vizinhos, amigos e comércios do bairro, sempre explicando o funcionamento do programa. Além disso, sua filha de seis anos, Maria Cristiane, participa da rotina.

“Ela me ajuda a recolher. O prêmio que eu ganho eu pago água, luz e, às vezes, uma coisinha para ela. Este mês ganhei R$ 200.”

Origem do Programa Ciclos

O Programa Ciclos nasceu em 2007 por iniciativa de Mário Renck Real. Na época, ele percebeu a necessidade de organizar corretamente a destinação de resíduos. Ainda não havia políticas consolidadas para isso. Assim, a iniciativa cresceu, envolveu famílias, escolas e a comunidade. Consequentemente, tornou-se um projeto oficial da empresa, estruturado e em constante expansão.

Hoje, o Ciclos é referência em sustentabilidade — reconhecimento que Mário não imaginava alcançar. Para ele, o maior impacto está no efeito multiplicador: toneladas de resíduos desviadas de aterros. Além disso, surgiram iniciativas semelhantes em outros locais. “Prefiro fazer alguma coisa do que não fazer nada”, resume o idealizador.

Departamento de Sustentabilidade

O programa evoluiu a ponto de criar um Departamento de Sustentabilidade. Ele é responsável pelo recebimento, separação e venda dos recicláveis. Também contrata empresas certificadas para destinar corretamente os materiais que não podem ser reaproveitados. O único resíduo reaproveitado internamente é o vidro, devido à pouca oferta de locais adequados para descarte. Portanto, o material é triturado e transformado em cascalho, usado em vias internas e na jardinagem da empresa. Além disso, o produto não possui pontas e não oferece risco de danificar pneus, conforme explica o supervisor de Qualidade, Júlio Morais.

Além da gestão ambiental, o programa gera benefícios diretos aos colaboradores. A venda dos recicláveis financia ações como Outubro Rosa, Novembro Azul, Setembro Amarelo, festas internas como o Dia das Crianças e premiações. Como resultado, o crescimento foi tão expressivo que a empresa mantém uma central de coleta de recicláveis na Paróquia Nossa Senhora de Fátima, no bairro Monte Líbano.

Estrutura e Coordenação

Morais explica que o Ciclos é coordenado por um comitê interno formado por gestores e colaboradores. Ele direciona ações ambientais, sociais e de governança. Além disso, a empresa destina recursos ao patrocínio de projetos culturais, educacionais e esportivos.

Por fim, Morais reforça: “Ele nasceu na reciclagem, mas atualmente é um programa completo. Possui políticas internas, atendimento à legislação, logística reversa e toda a documentação exigida pelo Inmetro e pelos órgãos ambientais.”

 

*Material produzido pela jornalista Inara Silva- Campo Grande News

*Fotos: Paulo Francis- Campo Grande News